Arquiteto negro 1º colocado geral no BNDES defende cota em concursos
O arquiteto Tiago Coutinho da Silva foi surpreendido no último dia 21 de março enquanto assistia à cerimônia de lançamento do edital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que vai selecionar profissionais negros para criar um museu a céu aberto na Pequena África ─ região carioca que guarda memória da chegada de africanos escravizados ao Brasil. No meio do evento, sentado na plateia ao lado dos pais e da esposa, ele ouviu a diretora de Pessoas, Gestão e Operação do BNDES, Helena Tenório, anunciar o nome dele para subir ao palco. Notícias relacionadas:Decisão judicial determina adoção de cotas em colégios militares .BNDES apoiará ideias de arquitetos negros para Pequena África, no Rio.Hora trabalhada de pessoa branca vale 67,7% mais que a de negros.“O primeiro colocado das cotas foi o primeiro colocado geral do concurso”, revelou a diretora. Helena Tenório se referia ao concorrido concurso que o banco público de fomento realizou em outubro passado, depois de um intervalo de 12 anos sem seleções desse tipo. Ao disputar uma das duas vagas de arquiteto, Coutinho, que tinha optado por concorrer às vagas por cotas raciais, ficou em primeiro lugar na ampla concorrência em sua carreira e também tirou a maior nota entre todas as carreiras. Tiago Coutinho dividiu o palco com três ministras negras: Anielle Franco, da Igualdade Racial; Macaé Evaristo, dos Direitos Humanos e da Cidadania; e Margareth Menezes, da Cultura. “Não estava preparado. É muito mais fácil fazer uma prova”, brincou com a situação, antes de dizer que se sentia “um exemplo de representatividade e motivo de orgulho e inspiração para outras pessoas”. Tiago Coutinho ao lado das ministras negras Anielle Franco, da Igualdade Racial; Macaé Evaristo, dos Direitos Humanos e da Cidadania; e Margareth Menezes, da Cultura - Arthur Augusto/BNDES Reparação histórica O arquiteto tem 29 anos e mora em Niterói, cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro. Em conversa com a Agência Brasil, ele diz que a aprovação no concurso é fruto de muita dedicação. “Dedicação ao longo de uns anos já. Eu estudo desde 2020”. Mesmo sabendo que teria sido aprovado sem as cotas raciais, ele defende que a política de ação afirmativa é uma forma de reparação para corrigir injustiças que fazem parte da história do país, que teve quase quatro séculos de escravidão. “Quando os brancos chegaram aqui, eles sempre tiveram essa oportunidade, eles receberam cotas de terra, receberam coisas que dão oportunidade a eles até hoje. Então, a política de cotas, na verdade, é uma reparação para a gente tentar igualar as coisas que já deveriam estar em um cenário melhor. É uma dívida. Um ponto que tenta igualar as diferenças que a gente tem na sociedade”, afirma. Tiago enfatiza que, assim como a base familiar que lhe deu apoio, o acesso a instituições educacionais públicas de qualidade permitiram seu caminho até a aprovação no concurso. O jovem conseguiu estudar em unidades de referência, como o Instituto de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CAp-UERJ) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Concorrência Esperado por mais de uma década, o concurso do BNDES reuniu 42.767 candidatos em todas as capitais do país, que disputaram 150 vagas imediatas. O salário inicial previsto no novo plano de cargos e salários do banco é de R$ 21.869,76. A relação candidato/vaga mais acirrada foi justamente a disputada por Tiago, arquitetura e urbanismo, com 2.362 pessoas para as duas vagas oferecidas, gerando uma concorrência de 1.181 candidatos por vaga. O resultado da seleção foi divulgado em janeiro deste ano. Tiago alcançou nota 110,6. O máximo possível era 120. “Vai ter o crítico que diz que a prova deveria estar fácil. A gente colocou a prova para o ChatGPT, e ele tirou 82”, disse a diretora Helena Tenório, comparando com o desempenho do primeiro colocado com o do software de inteligência artificial (AI). “O sistema de cotas dá certo”, afirmou. “Fizemos o exercício de submeter a nossa prova à inteligência artificial, e a média geral das pessoas que foram aprovadas no concurso superou a nota do ChatGPT, por exemplo, um indicativo de que o bom desempenho foi alcançado mesmo em uma prova rigorosa, garantindo a continuidade da excelência do nosso corpo funcional”, complementou Helena Tenório. Cotas de 30% A diretora de pessoal do BNDES frisa que o concurso do ano passado foi o primeiro com cotas para negros na proporção de 30% do total de vagas, acima do mínimo exigido por lei, que é de 20%. “O fato de a nota mais alta do concurso do BNDES provir de um candidato cotista reafirma o acerto da nossa decisão de fazer uma política afirmativa acima do limite mínimo previsto em lei. Optamos por uma cota racial de 30%, porque acreditamos que equipes mais diversas são não apenas mais representativas, mas também mais eficientes”, disse à Agência Brasil. A Lei 12.990, de junho de 2014 reser

O arquiteto Tiago Coutinho da Silva foi surpreendido no último dia 21 de março enquanto assistia à cerimônia de lançamento do edital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que vai selecionar profissionais negros para criar um museu a céu aberto na Pequena África ─ região carioca que guarda memória da chegada de africanos escravizados ao Brasil.
No meio do evento, sentado na plateia ao lado dos pais e da esposa, ele ouviu a diretora de Pessoas, Gestão e Operação do BNDES, Helena Tenório, anunciar o nome dele para subir ao palco.
Notícias relacionadas:
“O primeiro colocado das cotas foi o primeiro colocado geral do concurso”, revelou a diretora.
Helena Tenório se referia ao concorrido concurso que o banco público de fomento realizou em outubro passado, depois de um intervalo de 12 anos sem seleções desse tipo. Ao disputar uma das duas vagas de arquiteto, Coutinho, que tinha optado por concorrer às vagas por cotas raciais, ficou em primeiro lugar na ampla concorrência em sua carreira e também tirou a maior nota entre todas as carreiras.
Tiago Coutinho dividiu o palco com três ministras negras: Anielle Franco, da Igualdade Racial; Macaé Evaristo, dos Direitos Humanos e da Cidadania; e Margareth Menezes, da Cultura.
“Não estava preparado. É muito mais fácil fazer uma prova”, brincou com a situação, antes de dizer que se sentia “um exemplo de representatividade e motivo de orgulho e inspiração para outras pessoas”.
Reparação histórica
O arquiteto tem 29 anos e mora em Niterói, cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro. Em conversa com a Agência Brasil, ele diz que a aprovação no concurso é fruto de muita dedicação. “Dedicação ao longo de uns anos já. Eu estudo desde 2020”.
Mesmo sabendo que teria sido aprovado sem as cotas raciais, ele defende que a política de ação afirmativa é uma forma de reparação para corrigir injustiças que fazem parte da história do país, que teve quase quatro séculos de escravidão.
“Quando os brancos chegaram aqui, eles sempre tiveram essa oportunidade, eles receberam cotas de terra, receberam coisas que dão oportunidade a eles até hoje. Então, a política de cotas, na verdade, é uma reparação para a gente tentar igualar as coisas que já deveriam estar em um cenário melhor. É uma dívida. Um ponto que tenta igualar as diferenças que a gente tem na sociedade”, afirma.
Tiago enfatiza que, assim como a base familiar que lhe deu apoio, o acesso a instituições educacionais públicas de qualidade permitiram seu caminho até a aprovação no concurso. O jovem conseguiu estudar em unidades de referência, como o Instituto de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CAp-UERJ) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Concorrência
Esperado por mais de uma década, o concurso do BNDES reuniu 42.767 candidatos em todas as capitais do país, que disputaram 150 vagas imediatas. O salário inicial previsto no novo plano de cargos e salários do banco é de R$ 21.869,76.
A relação candidato/vaga mais acirrada foi justamente a disputada por Tiago, arquitetura e urbanismo, com 2.362 pessoas para as duas vagas oferecidas, gerando uma concorrência de 1.181 candidatos por vaga.
O resultado da seleção foi divulgado em janeiro deste ano. Tiago alcançou nota 110,6. O máximo possível era 120.
“Vai ter o crítico que diz que a prova deveria estar fácil. A gente colocou a prova para o ChatGPT, e ele tirou 82”, disse a diretora Helena Tenório, comparando com o desempenho do primeiro colocado com o do software de inteligência artificial (AI). “O sistema de cotas dá certo”, afirmou.
“Fizemos o exercício de submeter a nossa prova à inteligência artificial, e a média geral das pessoas que foram aprovadas no concurso superou a nota do ChatGPT, por exemplo, um indicativo de que o bom desempenho foi alcançado mesmo em uma prova rigorosa, garantindo a continuidade da excelência do nosso corpo funcional”, complementou Helena Tenório.
Cotas de 30%
A diretora de pessoal do BNDES frisa que o concurso do ano passado foi o primeiro com cotas para negros na proporção de 30% do total de vagas, acima do mínimo exigido por lei, que é de 20%.
“O fato de a nota mais alta do concurso do BNDES provir de um candidato cotista reafirma o acerto da nossa decisão de fazer uma política afirmativa acima do limite mínimo previsto em lei. Optamos por uma cota racial de 30%, porque acreditamos que equipes mais diversas são não apenas mais representativas, mas também mais eficientes”, disse à Agência Brasil.
A Lei 12.990, de junho de 2014 reserva aos negros 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União.
Além disso, tramita no Congresso Nacional, o Projeto de Lei (PL) 1958, de 2021, que altera o percentual para 30%.
Em relação ao ensino superior federal, em novembro de 2023 foi sancionado o PL 5.384/2020, que atualiza a Lei 12.711/12, conhecida como Lei de Cotas.
O texto determina que, no mínimo, 50% das vagas, por curso e turno, são reservadas para estudantes de escolas públicas. O novo texto prevê uma metodologia de atualização anual nos percentuais raciais e de pessoas com deficiência, de acordo com as estatísticas populacionais, para o cálculo da proporção de vagas gerais e das reservas que serão destinadas para esses grupos.
Qual é a sua reação?






