Cardeais favoritos do conclave já chegaram ao Vaticano

Votação para escolher novo pontífice começa no dia 7 de maio Este conteúdo foi originalmente publicado em Cardeais favoritos do conclave já chegaram ao Vaticano no site CNN Brasil.

Apr 29, 2025 - 09:35
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Cardeais favoritos do conclave já chegaram ao Vaticano

Os cardeais favoritos para se tornarem o próximo papa já chegaram ao Vaticano para o conclave. A votação para escolher o novo pontífice começa no dia 7 de maio.

Na data, 135 cardeais eleitores vão se reunir na Capela Sistina para definir quem sucederá Francisco no comando da Igreja Católica.

A eleição de um chefe de Estado do Vaticano gera discussões ao redor de nomes considerados fortes candidatos. Há até mesmo um termo italiano para definir esses cardeais: “Papabile” (“papável”, em tradução literal).

O cardeal italiano Angelo Becciu, o mais alto funcionário da Igreja Católica já julgado em um tribunal criminal do Vaticano, disse em uma declaração nesta terça-feira (29) que não iria participar do conclave.

O cardeal foi condenado por peculato e fraude.

Veja os nomes dos principais cotados: 

Pietro Parolin

O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, aguarda encontro com o Rei Felipe VI da Espanha no Palácio da Zarzuela em 14 de outubro de 2016 em Madri, Espanha.
O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, aguarda encontro com o Rei Felipe VI da Espanha no Palácio da Zarzuela em 14 de outubro de 2016 em Madri, Espanha. • Carlos R. Alvarez/WireImage

O cardeal italiano Pietro Parolin, atua desde 2013 como secretário de Estado do Vaticano – cargo que basicamente reúne as funções de um primeiro-ministro e um ministro das Relações Exteriores, além de ser considerado o “número 2” do papa.

Fontes com conhecimento do Vaticano ouvidas pela CNN, que falaram sob a condição de anonimato, dizem ver Parolin como um forte candidato e destacam seus quase 40 anos de experiência na diplomacia da Santa Sé.

O Vaticano descreve o cardeal como alguém “particularmente especialista em assuntos relativos ao Oriente Médio e à situação geopolítica do continente asiático”.

Entre 2009 e 2013, ele também atuou como núncio apostólico (espécie de “embaixador da Santa Sé”) na Venezuela, em um momento de crise na relação da Igreja Católica com o governo de Hugo Chávez. Parolin ainda teve papel importante na intermediação das negociações que levaram à retomada das relações de Cuba e EUA, em 2015.

Se o perfil diplomático do cardeal em um mundo enxameado de conflitos é visto como ponto forte para alguns especialistas, outros destacam seus contras.

Uma fonte destacou à CNN, sob a condição de anonimato, que Parolin é visto como “um burocrata do Vaticano” e é esperado “que essa seja uma figura cada vez menos provável no papado”. “Apesar de Parolin se encaixar nos critérios de continuidade e facilidade de articulação, não tem o histórico mais provável para um papa”, relatou.

O vaticanista australiano Paul Collins avaliou que Parolin tem forte identificação com as ideias de Francisco, “mas não tem experiência pastoral e nunca administrou uma diocese”.

Collins ainda citou “escândalos financeiros complexos” que aconteceram na Secretaria de Estado durante o mandato do cardeal. “No início do papado de Francisco, ele era visto como um nome ‘quente’, mas seu brilho diminuiu consideravelmente”, acrescentou.

Matteo Zuppi

O cardeal Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, celebra a missa de véspera de Natal no salão da estação de trem em 24 de dezembro de 2024 em Bolonha, Itália.
O cardeal Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, celebra a missa de véspera de Natal no salão da estação de trem em 24 de dezembro de 2024 em Bolonha, Itália. • Massimiliano Donati/Getty Images

O favorito para a disputa, na visão de Collins, é o cardeal italiano Matteo Zuppi – outro nome que consta em todas as listas que circulam.

Assim como Parolin, ele também carrega grande experiência diplomática em sua atuação na “Comunidade de Santo Egídio” – organização católica apelidada de “a pequena ONU de Trastevere”, em referência ao bairro romano onde fica sua sede.

Por exemplo, em 1992, Zuppi foi um dos mediadores que alcançaram o acordo de paz para encerrar mais de 16 anos de uma guerra civil sangrenta em Moçambique. O cardeal também foi escolhido como o enviado de paz do papa para lidar com a guerra na Ucrânia.

“Zuppi tem a seu favor a experiência na Comunidade de Santo Egídio, uma organização muito afinada com a linha pastoral de Francisco, e o posto na Conferência Episcopal Italiana, que o qualifica também como articulador político”, relatou uma fonte.

Um artigo do escritor especialista em Vaticano Marco Roncalli, traduzida pelo Instituto Humanitas Unisinos, destaca que Zuppi “se tornou um ponto de referência na vida urbana de católicos e não católicos, crentes e não crentes, quase uma autoridade civil além de religiosa, com capacidade imensas de mediação e concertação”.

Pierbattista Pizzaballa

O arcebispo Pierbattista Pizzaballa, do Patriarcado Latino de Jerusalém, participa das celebrações de Natal ao redor da Igreja da Natividade, onde se acredita que Jesus Cristo nasceu, em Belém, em 24 de dezembro de 2024.
O arcebispo Pierbattista Pizzaballa, do Patriarcado Latino de Jerusalém, participa das celebrações de Natal ao redor da Igreja da Natividade, onde se acredita que Jesus Cristo nasceu, em Belém, em 24 de dezembro de 2024. • Issam Rimawi/Anadolu via Getty Images

Outro italiano cotado como “papabile” é o cardeal Pierbattista Pizzaballa.

Ele comanda desde 2016 o Patriarcado Latino de Jerusalém – uma das mais importantes arquidioceses católicas, com jurisdição sobre a Palestina, Israel, Jordânia e Chipre.

Desde o início da guerra entre Israel e Hamas, ele recorrentemente fez apelos pela paz e chegou a se oferecer em troca da libertação das crianças sequestradas pelo grupo palestino. Ele também trabalhou com a Ordem de Malta – organização internacional católica – para enviar ajuda humanitária para Gaza.

Uma fonte ouvida pela CNN considera Pizzaballa um “candidato surpresa” no conclave. “É aquele que corre por fora, mas tem grandes chances. É italiano, mas fez carreira em meio às guerras do Oriente Médio. Tem uma espiritualidade fortíssima e o contexto das guerras fez com que essa espiritualidade fosse conhecida no mundo todo”, disse.

“E uma curiosidade: é o mais próximo do perfil do cardeal feito papa no filme ‘Conclave’”, acrescentou.

Já outra fonte pondera que o contato tão próximo com essas guerras pode tirar votos do cardeal. “Temos que lembrar que a Igreja não gosta muito de tocar em áreas sensíveis, como regiões com conflitos em curso. Mas se os cardeais quiserem exatamente isso – sensibilizar mais, provocar uma reflexão em uma área de crise – eles podem realmente optar pelo Pizzaballa”, afirmou.

A ideia do próximo papa ser italiano – o que seria o caso de Zuppi, Parolin ou Pizzaballa – é uma questão que divide especialistas.

O vaticanista australiano Phil Collins, por exemplo, acredita que os cardeais podem optar por alguém mais familiarizado com o funcionamento da Cúria Romana (administração do Vaticano) para consolidar as reformas de Francisco – o que favoreceria os cardeais italianos, que vivem nesse meio.

Já um especialista ouvido pela CNN pondera que a escolha de um italiano poderia parecer um retrocesso na internacionalização da Igreja.

Luis Antonio Tagle

O cardeal Luis Antonio Tagle participa de uma missa com os novos cardeais, presidida pelo papa Francisco na Basílica de São Pedro, em 8 de dezembro de 2024, na Cidade do Vaticano.
O cardeal Luis Antonio Tagle participa de uma missa com os novos cardeais, presidida pelo papa Francisco na Basílica de São Pedro, em 8 de dezembro de 2024, na Cidade do Vaticano. • Franco Origlia/Getty Images

Caso a escolha do próximo papa não vá em direção à Itália, o cardeal filipino Luis Antonio Tagle é apontado entre os principais concorrentes.

Arcebispo emérito de Manila e proclamado cardeal em 2012, Tagle já foi apelidado de “o Francisco asiático” por conta de sua relação com os pobres.

O site “Crux”, que é especializado em cobertura da Igreja Católica e Vaticano, publicou um artigo, no qual descrevia o cardeal Tagle como “um moderado orientado à justiça social, que é mais conhecido pela sua defesa dos imigrantes e dos pobres, e cujo estilo de vida pessoal fala de modéstia e simplicidade”.

Uma fonte afirmou à CNN que Tagle “é um candidato forte”. “Ele tem histórico de compromisso social e vem do Oriente, onde a Igreja costuma ser mais tradicionalista do que na Europa. Poderia fazer uma ponte mais fácil com os conservadores norte-americanos e mostraria um aumento da internacionalização da Igreja”, relatou.

Já Collins acredita que problemas administrativos na instituição de caridade Caritas Internacional durante a gestão de Tagle podem tirar sua proeminência entre os cardeais. Outra fonte ainda destaca o fato de Tagle vir de uma família de ascendência chinesa e a China é um tema sensível na Igreja.

O pontificado de Francisco firmou um acordo histórico em 2018 que apaziguou as relações com Pequim, mas o pacto enfrentou críticas – sobretudo da ala conservadora.

As listas de “papabili” também trazem outros cardeais com chances de serem eleitos papa e que, assim como os últimos exemplos citados, estariam alinhados à ideia de continuidade do pontificado de Francisco e consolidação das reformas iniciadas.

São eles o cardeal francês Jean-Marc Aveline, o maltês Mario Grech, que atua como secretário do Sínodo dos Bispos, o cardeal português José Tolentino de Mendonça, o americano Robert Francis Prevost e o britânico Arthur Roche.

Apesar de considerado altamente improvável, os especialistas também analisaram a possibilidade do conclave surpreender a todos e os cardeais optarem por um nome conservador e que contraste com as ideias da Igreja na última década.

Peter Erdő

O cardeal húngaro e arcebispo de Budapeste, Peter Erdo, comparece à missa na Basílica de São Pedro, antes dos cardeais entrarem no conclave para decidir quem será o próximo papa, em 12 de março de 2013 na Cidade do Vaticano, Vaticano.
O cardeal húngaro e arcebispo de Budapeste, Peter Erdo, comparece à missa na Basílica de São Pedro, antes dos cardeais entrarem no conclave para decidir quem será o próximo papa, em 12 de março de 2013 na Cidade do Vaticano, Vaticano. • Franco Origlia/Getty Images

O projeto “College of Cardinals”, ligado à editora católica conservadora Sophia Institute Press, destaca o nome do cardeal húngaro Peter Erdő, que também já foi considerado entre os principais candidatos no conclave de 2013, que elegeu o papa Francisco.

Collins concorda que o apoio conservador – que é mínimo na atual composição do grupo de cardeais eleitores – deve se aglutinar ao redor de Erdő. Mas o historiador australiano acredita que o eurocentrismo do cardeal e sua proximidade com o governo autoritário liderado pelo primeiro-ministro protestante Viktor Orbán diminuem criticamente suas chances de se tornar papa no próximo conclave.

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