Francisco pediu que não votassem nele em conclave, diz à CNN amigo do papa

Um amigo de infância do papa Francisco, o argentino Oscar Crespo, de 87 anos, relatou à CNN que o pontífice pediu que os demais cardeais parassem de votar nele para assumir a liderança da Igreja Católica na votação que elegeu o ex-papa Bento XVI, em 2005.

Há diferentes versões sobre os bastidores do conclave que elegeu o papa alemão, Joseph Ratzinger. Sabe-se, por exemplo, que na ocasião o cardeal Jorge Mario Bergoglio (que depois viraria o papa Francisco) recebeu votos de parte dos cardeais. 

Segundo o amigo do papa Francisco, quando o argentino viu que teria chances de ser eleito, pediu aos demais religiosos que não votassem mais nele.

“Ele levantou e disse: por favor, não continuem votando em mim, porque se me elegerem, não vou poder aceitar esse cargo porque tenho muitíssimas coisas para fazer na Argentina. Ele me contou assim”, relatou Crespo à CNN.

De acordo com o amigo do papa, os afazeres pendentes na Argentina eram justamente a ajuda aos menos favorecidos. “Ele não estava em condições nesse momento de aceitar [assumir o papado] devido ao seu trabalho na cúria ajudando os outros, ele viajava muito para o interior do país, cumpria tudo o que pensava em fazer”, conta.

Sobre o conclave, Crespo afirma que “começaram a votar nele e ele não sabia onde isso poderia chegar, então ao suspeitar de que ele poderia continuar recebendo muitos votos, cortou o assunto”.

Amigo da juventude do papa

Crespo conheceu o papa no curso técnico de química que ambos faziam em Buenos Aires. Os dois chegaram a trabalhar na mesma empresa de análise química de alimentos. Hoje aposentado, Crespo conta que quando jovem, Bergoglio gostava de se divertir e chegou a ir com ele a um baile de um clube de bairro.

A amizade persistiu mesmo quando Bergoglio virou o líder máximo da Igreja na Argentina e morava no arcebispado, localizado na Praça de Maio. 

“Nos sábados, quando o pessoal de administração não ia e ficava somente um guarda lá, ele costumava convidar a mim e outros ex-companheiros para almoçar. Esses almoços eram clássicos, porque nós levávamos o vinho e ele era responsável pela comida. Começávamos cerca do meio-dia e terminávamos umas seis da tarde”, lembra Crespo.

Crespo relata ter ficado emocionado quando seu amigo foi eleito papa. E contou que dias depois recebeu uma ligação dele, contando que não esperava ser o escolhido. 

“Ele disse: sim, sou o novo papa, não esperava. Mas ao entrar no concílio, o cardeal mais velho disse: senhores, começamos o debate e quem for escolhido não pode renunciar, não será aceita nenhuma renúncia. Então, quem for eleito tem que assumir o cargo”, relata o amigo.

Crespo também diz que Francisco preferiu se mudar para a residência de Santa Marta em vez de ir para a residência papal. “Prefiro estar com as pessoas mais simples, ter com quem conversar, com quem sentar para almoçar”, teria dito o pontífice, dizendo para Crespo: “como me sinto um pouco sozinho, com muito gosto irei te receber”. 

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